Era a calma mansa de um dia ensolarado
As paredes reluziam o ouro que descia dos céus
Eu vagava, sem promessas, pelas ruas brilhantes
Sentindo a brisa suave que corria manhosa
Fazia sol, fazia brilho, fazia luz
Então senti a sombra que se aproximava
Sombra doce, mas pungente
Coleando sinuosa, tomando meu corpo
Espalhando-se pela pele, por meus olhos
Noite profunda na tarde radiosa
Duas luas novas eclipsando o sol abrasador
Teus olhos, selenes de paragens fictícias
Deusas hipnóticas das montanhas estreladas
Neles enxerguei os segredos de Pandora
Consagração de beleza e terror
Em sua discreta calma disfarçada
As tempestades açoitando a terra seca
Os lampejos brilhantes cortando a escuridão
Perdido no fundo de teus olhos
Vi morte e renascimento, estrelas cadentes
Enxerguei o alfa e o ômega do Universo
E toda a verdade esquecida do mundo
Atravessado pela dor lancinante
Dos ventos cortantes que vem distantes
Me aqueci no calor de vulcões incandescentes
Encontrando prazeres lânguidos
Nos teus olhos de coriscos azuis e verdes
Encontrei as profundezas das águas escuras
Dos saveiros adormecidos e dos seres abissais
Vi as fogueiras das bruxas, dançando na floresta
As incontáveis velas que iluminavam os salões
Dos bailes de vestidos longos de pedrarias reluzentes
Teus olhos, duas luas novas de noite mágica
Neles antevi as presas brancas do caçador noturno
E antes que me perdesse no labirinto translúcido
A aurora retornou do horizonte já esquecido
O sol subiu aos céus e teus olhos se foram
Duas luas que retornaram a noite distante
Deixando em seu lugar um delírio tépido
De quem viu além do horizonte onírico
Paulo Renault
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